Apenas quatro dias após a matança de 60 detentos em duas penitenciárias de Manaus, pelo menos 33 presos foram mortos na madrugada desta sexta-feira na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), na Zona Sul de Boa Vista, em Roraima. O secretário de Justiça e Cidadania do Estado, Uziel de Castro Júnior, afirmou que “possivelmente” os responsáveis pelos assassinatos são criminosos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC), que dominam o presídio. “Não existem facções de outras organizações criminosas no local [além do PCC]”, disse o secretário em entrevista à Rádio BandNews, sem apontar os motivos do motim.
Em coletiva de imprensa, em Brasília, o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, disse que a matança não foi uma retaliação ao massacre de Manaus, onde integrantes do PCC foram mortos pela facção rival Família do Norte (FDN), aliados do Comando Vermelho. “Não é uma retaliação. Houve a separação dessa facção nesse presídio. Então, todos ali eram da mesma facção. Os que morreram eram estupradores e rivais internos que haviam, segundo as informações ainda iniciais, traído os demais. Na linguagem popular, seria um acerto interno, o que não retira a gravidade do fato”, disse o ministro.
De acordo com informações do governo, os detentos quebraram os cadeados e invadiram a Ala 5, a cozinha e o cadeião, onde estavam os presos de menor periculosidade e mataram os detentos. Agentes penitenciários disseram que não houve fugas. A Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado informou, por meio de nota, que o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar está no local.
A maioria das vítimas foi decapitada, teve o coração arrancado e foi desmembrada. Os corpos foram jogados em um corredor que dá acesso às alas. A descrição corresponde ao que foi feito com as vítimas nos presídios do Amazonas.
Em outubro, a mesma penitenciária registrou uma rebelião provocada por rivalidade entre o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Na ocasião, dez presos foram mortos – três teriam sido decapitados e sete corpos foram queimados em uma fogueira no pátio da unidade.
Naquela mesma matança, todos os mortos seriam integrantes da facção Comando Vermelho, que domina cerca de 10% do presídio. O restante do presídio é comandado pelo PCC. Na época, as investigações do Ministério Público apontaram que o clima na penitenciária começou a ficar tenso no início do mês de outubro, quando o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) romperam, em nível nacional, uma aliança que perdurava há anos que permitia a convivência pacífica das duas facções nos presídios brasileiros.
O PCC emitiu uma ordem que não aceitaria dividir as celas com filiados do grupo rival, que era minoritário. Estes, então, se mudaram para a chamada Ala 12 do presídio de Monte Cristo.
O presídio abriga mais de 1.200 presos, o dobro de sua capacidade, e foi construído apenas para abrigar presos em regime semi-aberto.
A nota do governo de Roraima na íntegra:
“A Secretaria de Justiça e Cidadania informa que nesta madrugada (dia 6) foram registradas 33 mortes na Pamc (Penitenciária Agrícola de Monte Cristo). Esclarece que a situação está sob controle e que o Bope (Batalhão de Operações Especiais) da PMRR (Polícia Militar) está nas alas do referido presídio.”
Fonte:Veja