O governador de São Paulo João Doria sempre alardeou, inflando o peito, ser defensor intransigente dos desígnios da ciência para pautar medidas restritivas que fecham comércios, travam a economia e deixam pequenos empresários a míngua. Enquanto os comerciantes acumulam dívidas, uma multidão de trabalhadores se espremem nos metrôs e trens, inventando-se assim a aglomeração que se tolera e não se enxerga. Para esses a escolha é única, se não saem para trabalhar, seja para fazer o que, não há comida na mesa. Nesta sexta-feira (9) num recuo que parece mais político do que alimentado pelas razões da ciência, Doria resolveu encerrar o tal período emergencial, que apesar de impingir tantas limitações, manteve os índices de isolamento social ainda abaixo do que se esperava.
Nas novas regras do governador, futebol - tão essencial para a vida dos paulistas, já que ninguém pode viver sem uma bolinha rolando - vai voltar. Já cultos e missas - ainda que com todas as regras sanitárias cumpridas - continuam proibidos.
Difícil de entender. Lojas de material de construção pode, porque ninguém consegue adiar aquela reforma urgente na lavanderia, mas as pessoas estão impedidas de entrar num templo ou numa igreja para ouvir palavras de conforto, num momento em que a sanidade de todos desafia limites em meio a um tiroteio de adversidades cotidianas.
Os desempregados estão nas praças das grandes cidades, os famintos revirando os lixos, os mortos sendo enterrados e os hospitais lotados. Mas o importante é abrir aquela cervejinha estalada de gelada e ver seu time jogar. Quando a angústia apertar, grite gol bem alto, já que estamos proibidos de entrar num templo e orar.