A testemunha que revelou detalhes sobre a execução da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, disse que está ameaçada de morte por Orlando Oliveira de Araújo, o ex-PM Orlando de Curicica, preso em Bangu 9 desde outubro do ano passado. Da cadeia, o miliciano ainda estaria controlando favelas da região de Jacarepaguá. O vereador Marcello Siciliano (PHS) também foi citado na delação.
O delator se afastou da milícia em setembro do ano passado. Matéria exclusiva do ‘O Globo’ revelou detalhes de uma nova denúncia da testemunha que também revela o assassinato de dois sócios e quanto a milícia da região de Jacarepaguá fatura por mês com a exploração do “gatonet”.
Vereador citado nega acusação
O vereador Marcello Siciliano (PHS) chamou, durante entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira (9), de mentirosa a acusação de seu envolvimento na morte da vereadora Marielle Franco.
“Gostaria de esclarecer, antes de mais nada, a minha surpresa com relação ao que aconteceu ontem. A minha relação com a Marielle era muito boa, não estou entendendo porque esse factoide foi criado contra a minha pessoa. Estou sendo massacrado nas redes sociais por algo que foi dito por uma pessoa que a gente não sabe nem a credibilidade que a pessoa tem. Nunca tivemos conflito político em região alguma. Ela esteve no meu aniversário. Em Curicica eu não tive muitos votos”, garantiu Siciliano.
Detalhes
Nesta terça (8), o jornal ‘O Globo’ informou, em uma reportagem exclusiva, que uma testemunha procurou a Polícia Federal (PF) para falar sobre o caso Marielle. A testemunha teria contado à polícia que o vereador e o ex-PM Orlando Araújo queriam a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL).
Ainda segundo a publicação, a testemunha decidiu contar o que sabe porque está jurada de morte. O delator teria sido ameaçado pelo ex-policial militar Orlando Oliveira de Araújo, que cumpre pena na Cadeia Pública Bandeira Stampa, conhecida como Bangu 9.
A motivação do crime, de acordo com o depoimento, foi o avanço de ações comunitárias de Marielle em áreas de interesse da milícia na Zona Oeste.
A vereadora foi executada com quatro tiros na cabeça na noite de 14 de março. Na ação, o motorista Anderson Gomes também foi atingido e morreu e uma assessora foi ferida por estilhaços.
Morte de colaborador não foi ‘queima de arquivo’
Em abril, Siciliano prestou depoimento à Divisão de Homicídios sobre o assassinato de Marielle, na condição de testemunha. Dois dias depois de prestar depoimento, um colaborador do vereador, Carlos Alexandre Pereira, foi executado na Taquara, Zona Oeste da cidade.
Segundo informações do 18º BPM (Jacarepaguá), uma equipe encontrou Carlos Alexandre morto a tiros. O gabinete de Siciliano informou que ele era um colaborador voluntário.
Durante coletiva nesta manhã, Marcello aproveitou para dizer que não acredita que a morte de seu colaborador tenha a ver com a morte de Marielle, como uma possível “queima de arquivo”.
“Quando eu quis mostrar o trabalho que ele fez de levar as demandas das comunidades para o gabinete, ninguém se interessou. Só mostraram foto dele com um relógio de ouro”, afirmou Siciliano, destacando que a Cidade de Deus nunca foi reduto eleitoral dele.
Sobre a amizade que o vereador alegou ter com Marielle e que foi questionada por alguns amigos de partido da vereadora, Sicialiano disse que as imagens do plenário da Câmara falam por si só. “Puxa as câmeras do plenário que vocês vão ver. Cada um tem um nível de achismo do que é amizade, coleguismo. As mentiras aparecem, as máscaras caem e já, já, tudo isso vai ser resolvido”, garantiu.
Testemunha fala de conversa sobre vereadora morta
De acordo com ‘O Globo’, a testemunha diz que foi forçada a trabalhar para Orlando e deu detalhes de como a execução foi planejada e diz que participou de reuniões. As conversas entre Orlando e Siciliano teriam começado em junho do ano passado.
“Eu estava numa mesa, a uma distância de pouco mais de um metro dos dois. Eles estavam sentados numa mesa ao lado. O vereador falou alto: “Tem que ver a situação da Marielle. A mulher está me atrapalhando”. Depois, bateu forte com a mão na mesa e gritou: “Marielle, piranha do Freixo”. Depois, olhando para o ex-PM, disse: ‘Precisamos resolver isso logo'”, afirmou a testemunha, segundo ‘O Globo’.
Marielle foi assessora do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) durante a CPI das Milícias, na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
A reportagem cita ainda que a testemunha concedeu três depoimentos à Divisão de Homicídios. Deu informações à polícia sobre datas, horários e reuniões entre Siciliano e o ex-PM, que atualmente está em Bangu 9. Também teria fornecido nomes de quatro homens escolhidos para o assassinato, agora investigados pela polícia.
Ainda segundo a publicação, a testemunha contou que, um mês antes do atentado contra Marielle, o ex-PM deu a ordem para o crime de dentro da cela de Bangu 9.
O relato informa que Orlando, primeiro, mandou que homens de sua confiança providenciassem a clonagem de um carro, o Cobalt prata, e que o veículo foi visto circulando próximo da comunidade da Merk, na Zona Oeste, controlada pelo ex-PM.
A testemunha afirmou também que um homem identificado como Thiago Macaco foi encarregado de fazer o levantamento dos hábitos da vereadora: onde ela costumava ir, o local que frequentava e todos os trajetos que Marielle usava ao sair da Câmara de Vereadores.
O depoimento também cita que o ex-PM é “dono” da comunidade Vila Sapê, em Curicica, também na Zona Oeste, que trava uma guerra com os traficantes da Cidade de Deus. Segundo a testemunha, a vereadora passou a apoiar os moradores da Cidade de Deus e comprou briga com o ex-PM e o vereador, que tem uma parte do seu reduto eleitoral na região.
“Ela peitava o miliciano e o vereador. Os dois (o miliciano e Marielle) chegaram a travar uma briga por meio de associações de moradores da Cidade de Deus e da Vila Sapê. Ela tinha bastante personalidade. Peitava mesmo”, revelou a testemunha, de acordo com o jornal.
Fonte: G1 e O Globo