O roteiro de manobras desenhado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para fugir da cassação tem como principal aposta a anulação de todos os procedimentos adotados desde novembro pelo Conselho de Ética, órgão que o investiga por quebra de decoro. Para isso, o peemedebista apresentou uma série de recursos à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e agora pressiona para emplacar um aliado no comando do colegiado - e, dessa forma, ver sua estratégia sair bem sucedida. A negociação é vista como um instrumento de barganha para evitar uma nova destituição do líder Leonardo Picciani (RJ).
O esforço de Cunha em ver um aliado na principal comissão da Câmara dos Deputados é antigo. Como cabe ao líder do PMDB indicar o presidente dos colegiados - e a CCJ sempre é prioridade -, ele lançou, em janeiro deste ano, o seu braço-direito Hugo Motta (PMDB-PB) na disputa pela liderança da bancada. Motta foi derrotado por Leonardo Picciani, que, em seguida, anunciou para presidir a comissão um deputado pouco próximo a Cunha: o mineiro Rodrigo Pacheco, que não demonstrou a intenção de facilitar a vida de seu colega de partido.
Desde então, conforme mostrou reportagem do site de VEJA em março, Cunha e seus aliados trabalham para emplacar o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) no comando da CCJ, ameaçando, inclusive, lançarem uma candidatura avulsa, o que não costuma acontecer com nomes do mesmo partido. Serraglio ganhou notoriedade em 2005, ao ocupar a relatoria da CPI dos Correios e, mesmo estando na base do governo, defender a cassação de figurões do PT, como a do ex-ministro José Dirceu. Em seu quinto mandato, o peemedebista tem perfil discreto, bom trânsito e respeito entre os parlamentares e é titular da CCJ desde que chegou à Câmara, em 1999. Mas, além do currículo, Serraglio é próximo a Cunha. Nos corredores do Congresso, ele é tido como a principal esperança para evitar que o processo contra o presidente da Câmara chegue ao plenário, onde, por meio do voto aberto, avalia-se que o peemedebista não teria escapatória.
"Houve uma proposta de um outro setor da bancada, que foi justamente o setor que não votou em mim para líder, pedindo que num gesto de unificação eu aceitasse compor uma indicação com o deputado Osmar Serraglio", afirmou Picciani nesta quinta-feira. Questionado se o deputado paranaense poderia favorecer Cunha, o líder peemedebista enviou um recado: "O Serraglio é comprometido com a transparência, com a correção com a coisa pública e na política. Eu não imagino que ele tomaria qualquer tipo de medida não-republicana e não prevista no regimento", disse.
A ala que trabalha para comandar a CCJ é a mesma que derrubou Picciani da liderança do PMDB no ano passado - e que volta a isolar o deputado fluminense neste ano, desgastado após lutar contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Nos bastidores, fala-se que a retirada da indicação de Rodrigo Pacheco estaria condicionada à permanência de Picciani no posto.
O PMDB também vai comandar na Câmara a Comissão de Finanças e Tributação e a de Transportes, presididas, respectivamente, pelos deputados Simone Morgado (PA) e Washington Reis (RJ). No Congresso, o partido estará à frente da Comissão Mista de Orçamento (CMO) com o deputado Sérgio Souza (PR).
A instalação das comissões está prevista para a próxima quarta-feira. Normalmente, os colegiados da Casa têm início em março, mas o presidente Eduardo Cunha segurava o início dos trabalhos enquanto dava continuidade ao processo de impeachment de Dilma - e agora o ressuscita em meio ao seu próprio processo de cassação.
Fonte: Veja