Relatório da Prefeitura sobre ciclovia no Rio cita 'zona de respingo de maré'
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Publicado em 26/04/2016

"Em geral, a ciclovia [da Niemeyer] não contempla riscos consideráveis". A frase está em três ofícios da Secretaria Municipal de Obras (SMO) da Prefeitura do Rio, obtidos pelo G1, sobre o progresso das obras da Ciclovia Tim Maia, em São Conrado, Zona Sul do Rio.  Em nenhum deles há menções a ondas ou ressaca. A principal preocupação descrita em um dos documentos é sobre a maré, referente ao mês de abril do ano passado.

"A encosta em determinados pontos é íngreme e considerada zona de respingo de maré o que aumenta o grau de dificuldade de execução das obras", diz o texto. Na manhã de quinta-feira (21), um trecho de cerca de 35 metros da via foi atingido por uma forte onda e desabou causando a morte de pelo menos duas pessoas.

Moacyr Duarte, engenheiro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estudou o projeto básico completo da construção e afirmou ao RJTV que a Prefeitura não previu a possibilidade de ressacas. Ele chamou o projeto de "simplório e insuficiente".

Ao G1, a assessoria de imprensa da Concremat Engenharia não respondeu o questionamento se as ondas podem ter sido subestimadas, mas esclareceu que o relatório é um documento administrativo para prestação de contas. A firma, que é do mesmo grupo da Contemat, não participou da execução da obra e ficou encarregada apenas do relatório.

A nota diz que a empresa dá apoio administrativo às obras, que o serviço não possui caráter de fiscalização e "não afere qualidade nem aprova medições das empresas responsáveis" pelas obras.

"As demais questões relacionadas às obras da Ciclovia Tim Maia serão esclarecidas ao final das investigações em curso", diz o texto.

Os documentos sobre as obras foram feitos por uma equipe técnica da Concremat Engenharia. Depois foram revisados pela Secretaria de Obras, antes de serem endereçados ao Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), que cedeu empréstimo para a conclusão dos trabalhos.

Um outro trecho do relatório também é repetido em abril, maio e junho. Nele, consta a informação de que os "riscos [da obra] identificados dizem respeito ao tráfego intenso, trabalho noturno, trabalho nas encostas e sinalização viária".

Questionada sobre o documento que menciona a "zona de respingos de maré" e que a "ciclovia não contempla riscos consideráveis", a Secretaria Municipal de Obras afirmou que a Prefeitura do Rio aguarda o laudo da Coppe/UFRJ e do Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH), contratados para realizar perícia independente sobre os aspectos estruturais e as variáveis marítimas em toda Ciclovia da Niemeyer e investigar as causas do incidente da última quinta-feira.

"A estimativa é que o laudo conclusivo seja entregue em até 30 dias e não vamos comentar enquanto este laudo não for concluído. Os trabalhos já foram iniciados, e a Geo-Rio colocou todo material técnico do projeto executado à disposição", diz a nota emitida pelo órgão.

Consórcio pode ser considerado inidôneo
O contrato assinado entre a Prefeitura do Rio e o consórcio construtor Contemat-Concrejato prevê que o grupo possa ser multado em até 20% no valor total da obra, em caso de falha. Dos R$ 44 milhões investidos, cerca de R$ 9 milhões teriam que ser devolvidos aos cofres públicos. Além disso, o grupo seria declarado inidôneo e não poderia participar de novas licitações da administração pública carioca.

A Contemat é uma das sete empresas do grupo Concremat, fundado por Mauro Ribeiro Viegas, que é avô do secretário de Turismo do Rio, Antonio Pedro Figueira de Mello.

Em nota, o grupo empresarial nega que o parentesco tenha influenciado na escolha da empresa que construiu a ciclovia da Avenida Niemeyer.

O secretário, também em nota, disse que nunca trabalhou ou teve participação nos negócios da Concremat. "Tentar ligar meu nome aos negócios da empresa simplesmente em função do parentesco é infundado e leviano", declarou.

Fonte: G1

 

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