A presidente Dilma Rousseff embarcou nesta quinta-feira rumo a Nova York, onde participará de uma reunião da Organização das Nações Unidas (ONU). A petista deve aproveitar seu discurso de 5 minutos na sexta-feira, por ocasião da cerimônia de assinatura do Acordo de Paris sobre Mudança do Clima, para constranger internacionalmente o Brasil, apregoando a líderes mundiais que o processo constitucional de impeachment aceito contra ela no domingo pela Câmara dos Deputados representa um 'golpe'. Dilma tem repetido o batido discurso de seu partido em entrevistas a correspondentes estrangeiros - sempre omitindo o fato de o processo estar transcorrendo sob chancela do Supremo Tribunal Federal.
Com a admissibilidade do impeachment dada como certa no Senado, Dilma foi orientada a falar em Nova York porque, segundo interlocutores do Planalto, não 'teria alternativa'. O governo busca, com isso, criar pressão internacional contra a deposição da petista. Até agora, contudo, o único apoio que Dilma recebeu foi de figuras como Nicolás Maduro, da Venezuela, e do ditador cubano Raúl Castro. "Ela não poderá deixar de manifestar sua indignação com o golpe que se está se construindo no Brasil; que o processo em curso é artificial e falso, porque Dilma é uma mulher honesta que não cometeu nenhum crime, e o que está havendo no país é o mau uso do impeachment", disse o ministro-chefe do Gabinete da Presidência, Jaques Wagner, sobre o discurso de Dilma na ONU.
A estratégia foi criticada na quarta-feira pelo decano do STF, ministro Celso de Mello. "Ainda que a presidente veja a partir de uma perspectiva pessoal a existência de um golpe, na verdade há um gravíssimo equívoco, porque o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal já deixaram muito claro o procedimento de apurar a responsabilidade política da presidente", disse o ministro. Segundo o magistrado, o processo de impedimento está respeitando, até o presente momento, todo o itinerário estabelecido na Constituição e tem transcorrido em um clima de "absoluta normalidade jurídica".
Se de fato Dilma der curso à estratégia, ficará difícil justificar aos colegas chefes de Estado por que viajou ao exterior justamente nesse momento, deixando o vice-presidente, que acusa de golpista, no comando do país até o final de semana. Como definou na quarta-feira o ex-ministro de Lula e senador Cristovam Buarque (PPS-DF): "O pessoal vai rir da cara dela, porque quem está ameaçado por um golpe fica no país, não vai para o exterior, a não ser em caso de exílio, depois do golpe".
Fonte: VEJA