Ex-secretário de Obras do governo do Rio de Janeiro durante a gestão de Sérgio Cabral (PMDB), Hudson Braga depôs nesta terça-feira ao juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelos processos da Operação Lava Jato em primeira instância no Rio. Preso desde novembro de 2016, ele é acusado dos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha em desvios nas obras do Maracanã, do Arco Metropolitano e do PAC das Favelas, todas nos governos de Cabral. Embora o atual governador fluminense, Luiz Fernando Pezão (PMDB), não seja alvo do processo, uma das revelações de Braga atinge em cheio o peemedebista.
Um dos homens-fortes da Era Cabral e coordenador da campanha de Pezão em 2014, o ex-secretário declarou a Marcelo Bretas que naquele ano ficou com “sobras de campanha” de três milhões de reais, pagos via caixa dois, dos quais investiu 2,2 milhões de reais em um empreendimento imobiliário. Como o juiz não tem competência para julgar o governador, Hudson Braga não detalhou a origem dos pagamentos irregulares.
Segundo o ex-secretário, que durante o depoimento se disse “arrependido”, o dinheiro estava guardado na transportadora de valores Trans-Expert, apontada pelas investigações da Operação Calicute como o caixa onde as propinas em espécie pagas ao grupo político de Cabral eram guardadas.
“Eu, em junho de 2014, saí do governo, da função de secretário, para ser o coordenador geral da campanha do governador Pezão. Teve essa sobra e eu usei a Trans-Expert para guardar o recurso”, disse Hudson Braga.
Acusado pelo Ministério Público Federal de ser o responsável por cobrar de empreiteiras a “taxa de oxigênio” de 1% de propina sobre obras do governo do Rio, Braga admitiu ter recebido propina referente às obras do PAC das Favelas na favela de Manguinhos, na Zona Norte do Rio, mas negou ter sido o responsável pela criação da taxa.
De acordo com ele, foi o ex-secretário Wilson Carlos, também preso pela Calicute, o idealizador da taxa. “Acredito que tenha sido criada por ele, uma vez que ele me passou essa orientação”, relatou.
Segundo Hudson Braga, Carlos lhe explicou que a propina complementaria a renda de funcionários públicos cujos vencimentos pagos pelo estado seriam baixos.
“É verdade sim, só preciso esclarecer que, conforme eu disse, sou um técnico, não fui eu que criei isso. Fui convocado em uma ocasião, final de 2007, início de 2008, pelo secretário Wilson Carlos, que me relatou que existia diversas queixas do valor do pagamento do salário que estado remunerava, que ele tinha conversado com a Andrade para que contribuísse com 1% para melhorar o salário das pessoas que estavam envolvidas nesses projetos. Ele me deu essa orientação e eu organizei isso”, declarou.
Braga citou ao juiz federal como beneficiários da propina nas obras “presidentes de empresas vinculadas, subsecretários, superintendentes, assessores especiais e outros”. Ele ressaltou que pretende colaborar com a Justiça e, por isso, estaria disposto a citar outros nomes, mas ponderou que o depoimento a Bretas não seria o momento apropriado para isso. Hudson Braga negocia um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal.
Fonte:Veja