De acordo com funcionários dos EUA, que passaram sua avaliação ao Congresso e aliados europeus, os serviços de inteligência ainda não conseguiram estabelecer se o presidente russo Vladimir Putin tomou a decisão de agir ou não, mas ele está lidando com todas as opções possíveis, desde uma invasão parcial do enclave separatista de Donbas à invasão total.
Para a inteligência americana, se a Rússia optar por um ataque em grande escala, a ofensiva poderia tomar a capital Kiev e derrubar o presidente Volodymyr Zelensky em questão de 48 horas.
Tal ataque deixaria entre 25 mil e 50 mil civis mortos, junto com entre 5.000 e 25 mil soldados ucranianos e entre 3.000 e 10 mil soldados russos. Também poderia desencadear uma avalanche de refugiados de 1 milhão a 5 milhões de pessoas, principalmente para a Polônia, alertaram os funcionários.
A Ucrânia demonstrou neste domingo (6) desconfiar de "previsões apocalípticas" e considera que as possibilidades de uma "solução diplomática" com a Rússia são "muito superiores" às de uma "escalada" militar, após alertas dos EUA sobre a ameaça de uma invasão russa em larga escala.
"Não confie em previsões apocalípticas", disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, em uma rede social. "A Ucrânia tem um exército poderoso, apoio internacional sem precedentes... e está pronta para qualquer cenário", disse ele. "É o inimigo que devemos temer", completou.
"As chances de encontrar uma solução diplomática para uma desescalada são consideravelmente maiores que a ameaça de uma nova escalada", declarou Myhailo Podoliak, conselheiro-chefe do governo ucraniano.
Essas declarações ocorreram logo após a inteligência dos EUA revelar que a Rússia já havia implantado 70% do aparato militar necessário para uma invasão em larga escala da Ucrânia, que atingiria uma capacidade suficiente, de aproximadamente 150 mil soldados, para lançar sua eventual ofensiva de duas semanas.
O presidente Joe Biden enviou tropas americanas à Polônia para proteger os membros da Otan, enquanto os diplomatas trabalham arduamente para tentar persuadir a Rússia a retirar suas tropas da fronteira com a Ucrânia. O primeiro contingente de soldados americanos chegou no sábado e outro contingente é aguardado neste domingo (6).
Os Estados Unidos deslocaram 3.000 militares para a Europa, mas reiteram que não enviaram essas tropas "para iniciar uma guerra" contra a Rússia na Ucrânia, disse Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, neste domingo (6).
A Rússia nega a intenção de invadir a Ucrânia e afirma que só quer garantir sua segurança. Moscou também anunciou manobras militares conjuntas com Belarus e enviou vários batalhões para o norte de Kiev e para a região de Brest, não longe da fronteira com a Polônia.
No entanto, os serviços de inteligência dos Estados Unidos concluíram que a Rússia continua reunindo uma grande força militar em sua fronteira com a Ucrânia. Há duas semanas, um total de 60 batalhões do exército russo se posicionou ao norte, leste e sul da Ucrânia, particularmente na península da Crimeia, anexada pela Rússia depois de uma invasão em 2014.
Na sexta-feira (4) já havia 80 batalhões e outros 14 estavam a caminho a partir de outras partes da Rússia, disseram funcionários americanos. Além disso, 1.500 soldados das forças especiais russas conhecidas como Spetsnaz foram enviados para a região ao longo da fronteira com a Ucrânia há uma semana.
Uma importante força naval russa também está posicionada no mar Negro, equipada com cinco navios de assalto anfíbio que podem ser usados para desembarcar tropas na costa sul da Ucrânia, disseram funcionários americanos.
A Força Aérea russa já destacou aviões de caça e bombardeiros, assim como posicionou baterias antiaéreas próximas da fronteira com a Ucrânia. A Rússia concentra tropas em sua fronteira com a Ucrânia "desde a primavera passada", para "exercer pressão psicológica", e também está realizando "manobras maciças", segundo Mihailo Podoliak.
"Por quanto tempo essa intensa atividade russa continuará e qual objetivo ela busca? Apenas o Kremlin tem a resposta exata", mas a Ucrânia e seus aliados devem, no entanto, "estar preparados para todos os cenários possíveis", alertou.
A Ucrânia vem tentando há semanas minimizar o risco de um ataque russo, enquanto procura evitar mais danos à sua frágil economia. Os Estados Unidos disseram na quinta-feira (3) que têm evidências de que a Rússia está preparando um vídeo falso de um ataque ucraniano que serviria de pretexto para invadir a Ucrânia.
Matéria: R7
Informações: AFP