“Economia a gente vê depois”. O depois chegou, e agora?
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Publicado em 09/09/2020

“Depois de salvar vidas, vamos salvar a economia.” Essa afirmação, feita por João Dória, governador de São Paulo, no início de abril, e reverberada por vários prefeitos e governadores, apontava como absurda a preocupação com a economia em um momento que, segundo eles, deveríamos ter olhos apenas para “vidas”.

A questão é que “salvar vidas” não se resume a trancar a população dentro de casa por meses a fio e queimar dinheiro público comprando caixões sem licitação, respiradores superfaturados de norte a sul do país e com hospitais de campanha que foram desmontados sem prestar um atendimento sequer, como no Rio de Janeiro.

 

Um país como o nosso, onde 90% das pessoas acima de 25 anos não têm nenhum dinheiro guardado – segundo o Relatório Global do Sistema Previdenciário 2020 – não pode se dar ao luxo de simplesmente “ficar em casa” e resolver “depois” como pagar as contas e colocar comida na mesa. A imensa maioria das pessoas depende de trabalhar hoje para comer amanhã e isso não é nenhum segredo para quem governa os estados deste país.

A situação só não está pior porque tivemos uma injeção de bilhões de reais com o auxílio emergencial do governo federal, porém, esta é uma medida paliativa e com data para terminar. As projeções de mortos pela fome superam o número de vítimas da covid-19 e, segundo a Oxfam International, serão cerca de 12 mil mortos por dia, além das pessoas que sofrerão com doenças causadas pela desnutrição.

O custo de quem produz alimentos subiu, o frete aumentou e o dólar disparou, fazendo com que exportar seja muito mais lucrativo do que vender internamente. Mas a cultura brasileira antimercado sempre aponta o produtor como grande vilão e acha que controlar preços é a saída para não faltar comida, quando, na verdade, é exatamente esse o efeito que esse tipo de medida causa. Lembram-se dos “fiscais do Sarney”? O tabelamento de preços fez com que as prateleiras ficassem vazias, afinal de contas, quem trabalha para ter prejuízo?

Para quem ainda não entendeu, aqui vai um exemplo bem simples: imagine que você produza “marmitex” e esteja enfrentando a alta nos preços dos alimentos e dos combustíveis, que encarecem as saídas para a compra dos insumos, assim como a entrega dos produtos prontos. Até as embalagens plásticas subiram de preço por serem derivadas do petróleo. Ou seja, produzir ficou bem mais caro e é hora de rever o valor dos seus produtos.

Você faz as contas e chega à conclusão de que, se não reajustar o preço, vai ter prejuízo na certa. Mas, antes que você tenha tempo de tomar qualquer decisão, vem o governo e, acatando a sugestão dos progressistas e até de apresentador de TV, começa a impor controle e ameaça de botar na cadeia quem aumentar os preços. Ora, a população não pode ser “explorada” por você em um momento como esse... É um crime deixar as pessoas sem comida, ou você não sabe que todo mundo precisa comer e que é hora de ser patriota?

Nesse caso, o que você faria: pagaria para trabalhar ou teria que deixar de fornecer o seu produto? Como pagar para trabalhar não é uma opção viável, é fato que o seu produto desapareceria da “prateleira”. Desenhando sempre fica mais fácil.

O “fique em casa” está começando a mandar a conta e não há sinal de que os governadores salvadores da economia tenham alguma carta na manga para resolver o problema que eles mesmos criaram, minimizando a economia como se a sobrevivência das pessoas não dependesse da riqueza que o trabalho de cada um produz.

Mas acho que ainda dá para esperar as eleições de 2022, não é mesmo? Afinal, será durante a campanha presidencial que os senhores da quarentena eterna prometerão soluções milagrosas para tudo e mais um pouco, como se não tivessem sido eles mesmos os causadores do caos econômico.

Tomara que os donos da verdade baseada em ciência desconhecida realmente tenham uma solução milagrosa, caso contrário, esse “depois” pode ser tarde demais para “salvar as vidas” com as quais eles tanto se preocupam.

Matéria:R7

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