Em ato contra o impeachment realizado em Fortaleza (CE), o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado (2) que assumirá o comando da Casa Civil na próxima quinta-feira (7), se o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) reverter decisão que o impediu de ir para o ministério.
Indicado para comandar um dos ministérios mais importantes do governo, Lula chegou a tomar posse, mas não pode assumir o cargo por causa de uma liminar (decisão provisória) do ministro Gilmar Mendes, do STF.
O ministro entendeu que houve “desvio de finalidade” na indicação feita por Dilma. Na visão de Gilmar Mendes, a presidente nomeou Lula para que ele deixasse de ser investigado e julgado na primeira instância, pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. Ministros de Estado têm foro privilegiado no STF. A decisão de Gilmar Mendes será submetida ao plenário do Supremo, que poderá mantê-la ou derrubá-la.
Temer
No discurso, diante dos participantes da manifestação pró-Dilma, Lula disse ainda esperar que o vice-presidente da República, Michel Temer, "aprenda sobre eleições".
“Eu perdi muitas eleições. E eu quero que ele [Temer] aprenda sobre as eleições. O Temer é um professor de direito e sabe que o que estão fazendo é um golpe. E isso, ele sabe que vão cobrar é dos filhos dele, é do neto dele, amanhã. Porque a forma mais vergonhosa de chegar ao poder é tentar derrubar um mandato legal”, declarou o ex-presidente.
Procurada, a assessoria de imprensa do vice-presidente afirmou que "justamente por ser professor de direito constitucional, Michel Temer tem ciência de que não há golpe em curso no Brasil".
No caso de o impeachment ser aprovado pelo Congresso, Temer é quem assumirá a Presidência da República. Nos últimos meses, ele comandou as articulações para que o PMDB rompesse com o governo Dilma, o que foi oficializado no dia 29 de março. Desde então, petistas têm engrossado as críticas ao vice-presidente.
'Clima de ódio'
No discurso, Lula afirmou também que o país vive um "clima de ódio" nunca visto antes e disse que "defender o impeachment" da presidente Dilma Rousseff é agir "como golpista".
"Eu estou estranhando um pouco o que está acontecendo no nosso país. Eu completei 70 anos de idade. Vivo neste país fazendo política e nunca vi um clima de ódio estabelecido no país como está estabelecido agora. Aqueles que amam a democracia aqueles que gostam de fazer política [...] querem que se respeite a coisa mais elementar, que é o respeito ao voto popular que elegeu a Dilma”, discursou diante do público presente ao ato.
Ato em Fortaleza
O evento em Fortaleza começou por volta de 9h, com apresentações de artistas locais e, em seguida, começaram os discursos. A oranização estima em 65 mil o número de participantes. Inicialmente a estimativa feita pela organização era de 56 mil pessoas. A Polícia Militar fala em 10 a 12 mil.
Os manifestantes estão na praça mesmo debaixo de chuva. “Viemos preparadas com guarda-chuva, mas não vamos deixar de defender a presidente Dilma, Lula e a democracia. Estamos em um momento que precisamos de união e a participação de todos na luta é importante'', disse Dona Teresa, que foi à praça com amiga Laire. A capital cearense tem chuvas fortes desde a última quarta-feira (30).
Fã de Lula, Francisco Aldebran exibe fotos do ex-presidente e bandeiras com imagem da presidente Dilma Rousseff, que sofre um processo de impeachment do Congresso Nacional. "Pela primeira vez, um presidente passou a olhar para as pessoas mais humildes, essa luta tem que avançar, mas a elite política não quer permitir, com um golpe político'', disse.
Antes de Lula discursar, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), afirmou que não houve cometimento de crime de responsabilidade por parte da presidente Dilma.
“Nesse momento, estão tentando fazer o impeachment, para tirar nossa presidente. Nós não aceitamos isso porque não existe crime de responsabilidade. Isso é golpe, isso é golpe, presidente. Vamos defender a democracia. Não vai ter golpe!”, declarou.
Fonte: G1