Autoridades do governo americano citadas por diversas agências de notícias confirmaram que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconhecerá Jerusalém como a capital de Israel nesta quarta-feira (6), ignorando os alertas de vários líderes internacionais de que tal atitude poderá pôr em risco a paz no Oriente Médio.
Trump deverá anunciar em discurso na Casa Branca a transferência da embaixada dos EUA em Israel de Tel Aviv – onde ficam as embaixadas de todos os outros países – para a cidade marcada por uma frágil coexistência entre palestinos e israelenses.
Fontes do alto escalão do governo americano citadas por diversas agências de notícias afirmam que Trump vai ordenar o Departamento de Estado americano a iniciar a transferência, fazendo com que os EUA passem a ser o único país em todo mundo a reconhecer Jerusalém como a sede do governo israelense.
Estima-se que pelo grande número de funcionários da embaixada – cerca de mil – e das dificuldades de se encontrar um lugar para a construção de uma nova sede, levando-se em contra as preocupações com segurança e logística, o processo de transferência deverá levar de três a quatro anos.
Uma das fontes afirmou que se trata do “reconhecimento de uma realidade” tanto histórica quanto contemporânea, uma vez que Jerusalém é tida como a capital do Estado judeu deste a antiguidade e é atualmente a sede do governo israelense, apesar de nunca ter sido reconhecida internacionalmente como capital.
Israel considera a Cidade Sagrada a sua capital “eterna e indivisível”, enquanto os palestinos defendem que a parte leste de Jerusalém deve ser a capital de seu almejado Estado, sendo este um dos maiores desentendimentos entre os dois lados.
As Nações Unidas estabelecem que o status de Jerusalém deve ser definido em negociações entre israelenses e palestinos, razão pela qual os países com representação diplomática em Israel têm suas embaixadas em Tel Aviv e imediações.
Apesar de uma lei americana de 1995 que estabelece a transferência da embaixada americana para Jerusalém, a medida jamais foi aplicada. Os presidentes Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama adiaram sua implementação a cada seis meses, alegando “interesses nacionais”. Devido ao tempo necessário para realizar a transferência, é possível que Trump assine a mesma ordem para prorrogar a aplicação dessa lei.
Alertas internacionais
A comunidade internacional expressou nos últimos dias intensa preocupação com a medida. Líderes da União Europeia (UE), da Liga Árabe e de diversos países temem danos ainda maiores à estabilidade na região.
Muitos acreditam que a medida poderá minar por completo o papel dos EUA como mediador da paz no Oriente Médio, além de insuflar as atuais crises em países como a Síria, Iraque, Iêmen e Catar.
O grupo islamista Hamas ameaçou iniciar uma nova intifada – rebelião popular ou levante – contra Israel. O rei Salman da Arábia Saudita, país aliado de Washington, disse que a transferência poderá insuflar sentimentos antiamericanos em muçulmanos em todo o mundo.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou em discurso televisionado que “Jerusalém é uma linha vermelha para os muçulmanos”, ecoando declarações de outros líderes árabes.
Ali Khamenei, líder supremo do Irã, afirmou que a intenção de Washington é um sinal de sua “incompetência e fracasso”. “Sobre a Palestina, as mãos [americanas] estão amarradas, eles não consegue avançar em seus objetivos”, disse o aiatolá, acusando os EUA de serem capazes de iniciar uma guerra para defender Israel.
O líder da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, advertiu em conversa telefônica com o presidente americano sobre as “consequências perigosas” de tal decisão para os esforços de paz no Oriente Médio, bem como para a segurança e estabilidade da região.
Após falar com Trump, Abbas conversou com os presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Rússia, Vladimir Putin, bem como com o rei Abdullah 2º da Jordânia e o papa Francisco para clamar por ajuda. “(O presidente) pediu a eles que intervenham para evitar que isso aconteça”, disse o porta-voz.
Após o primeiro conflito árabe-israelense (1947-49), a Cisjordânia e Jerusalém Oriental ficaram sob o domínio da Jordânia, e a parte ocidental da cidade ficou sob o domínio de Israel.
Durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, os israelenses reconquistaram Jerusalém Oriental – que, na época, era praticamente toda habitada por palestinos –, uniram-na à parte ocidental da cidade, ocupada por judeus, em 1980 e declararam Jerusalém a capital indivisível de Israel. No entanto, a comunidade internacional jamais reconheceu Jerusalém como capital de Israel.
Fonte: DW